11 de jan. de 2010


"De manhã cedo, essa senhora se conforma

Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos

Ah, como essa santa não se esquece de pedir pelas mulheres

Pelos filhos, pelo pão

Depois sorri, meio sem graça

E abraça aquele homem, aquele mundo

Que a faz, assim, feliz

De tardezinha, essa menina se namora

Se enfeita, se decora, sabe tudo, não faz mal

Ah, como essa coisa é tão bonita

Ser cantora, ser artista

Isso tudo é muito bom

E chora tanto de prazer e de agonia

De algum dia, qualquer dia

Entender de ser feliz

De madrugada, essa mulher faz tanto estrago

Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar

Ah, como essa louca se esquece

Quanto os homens enlouquece

Nessa boca, nesse chão

Depois, parece que acha graça

E agradece ao destino aquilo tudo

Que a faz tão infeliz

Essa menina, essa mulher, essa senhora

Em que esbarro toda hora

No espelho casual

É feita de sombra e tanta luz

De tanta lama e tanta cruz

Que acha tudo natural!"

(Elis Regina)

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